sábado, fevereiro 11, 2006

Filmes de Culto!

Por que motivo existem filmes "de culto"? Que tipo de definição é esta e quais as razões que nos levam a utilizá-la? Poderíamos avançar com considerações sobre os contextos sociais, as vivências estéticas e as causas psicológicas que provocam uma reacção simultânea de estranheza e profunda identificação perante um objecto de características marginais. Pela diferença, pela originalidade, seguramente pela transgressão, os filmes de culto são aqueles que extravassam do domínio pessoal, do gosto mais vincado e singular, para uma área de interesse comum, mas suficientemente restrita para não se banalizarem no mercado de consumo em massa. Há vários tipos de "culto", para os mais diversos tipos de público, abertos a experiências diferentes.
No nosso "filme preferido" projectamos fantasias, existências desejadas ou temidas, mundos paralelos que traduzem de forma figurada e intensa a nossa vivência da realidade. Para muitos, um filme preferido não será a escolha mais óbvia da generalidade do público (Freaks, de Todd Browining vs. Titanic, de James Cameron, por exemplo), e a expressão "de culto" surge aqui como um código, uma espécie de segredo fora do alcance do espectador comum.
Realizadores como Roger Corman, Ed Wood e Paul Morrissey são hoje paradigmas desse "culto", mais por razões históricas do que por real mérito artístico.
Corman, o grande impulsionador dos subgéneros do cinema americano, misturando em doses maciças sexo, sangue e violência a um ritmo frenético, com baixissímos orçamentos, é o precursor dos "blockbusters", na essência e na intenção: cativar o maior número de entusiastas com o espectáculo mais excitado que se conseguir produzir. Ao longo de largas centenas de películas, Corman deu espaço de manobra e criação a nomes como Francis Ford Cappola, Jonathan Demnme, Jack Nicholson e Jonathan Kaplan, entre muitos outros.
Quentin Tarantino terá fundado muitas das suas ideias no universo de Corman e o mega-produtor Joel Silver (Arma letal, The Matrix) actua hoje de forma idêntica, quadriplicando os meios.
Ed Wood revisitou e explorou os medos obscuros de uma América em permanente sobressalto. Com recursos escassos, muita imaginação e a boa-vontade de uma equipa fiel, criou clássicos como Plan 9 From Outer Space, ou como uma invasão de alienígenas vampiros pode afectar o desenvolvimento normal de uma pacata localidade. A preto e branco, com cenários de cartão semidescolados, sombras de microfone e desempenhos mais assustadores do que o tema escolhido mas muita, muita convicção. Em Gjen ou Gjenda falou-nos de transexualidade, desempenhando o duplo papel protagonista, ora embrulhado em angorá ora levando-se dramaticamente a sério.
Inconformista, excêntrico, bizarro, Wood estava destinado a ser admirado pela audácia e pelo humor involuntário das suas criações. John Waters não existiria hoje sem a obra de Ed Wood.
Paul Morrissey acompanhou as tendências da Factory de Andy Warhol e Cia. Joel Dallessandro era então o representante de um certo ideal masculino, corrompido pelas drogas, pela prostituição e por outras declinações possíveis de má vida. Esta associação entre beleza e decadência e o jogo preverso de ambiguidades que os anos 70 proporcionavam, deu origem a filmes como Flesh, Trash e Heat, transgressores q.b, por vezes amorais, muito gráficos na representação dos corpos. O erotismo no cinema não voltaria a ser o mesmo, nem para o próprio Morrissey, que em Flesh for Frankenstein e Blood for Dracula mergulhou em fantasias carnais sem limites, regado a sangue, em ambientes de improvável terror.
Como negar o culto a estas figuras e à sua vontade indomável de criar algo novo e peculiar?...
Provavelmente um "filme de culto" não nasceu de grandes paixões, de longos debates e criticas arrebatadas. Dificilmente classificaremos JFK ou mesmo A Ultima Tentação de Cristo como tal.
Essa designação nasce do interesse de espíritos inquietos, curiosos, com uma boa dose de humor e de sentido lúdico, que, ao sabor do tempo e da descoberta, encontram histórias que se enquandram numa certa filosofia de vida. A sua. Pode haver filmes mais especiais?
 Posted by Picasa

4 comentários:

Anônimo disse...

que este blog seja o principio de um culto...
bem vinda a este espaço, o cinema é uma paixão, a arte paixao é...
parabens...

Mariana Ferreira disse...

Só tenho de enaltecer e agradecer as palavras que me foram dirigidas...sobretudo quando elas são provenientes de um...génio por lapidar!

Guilherme Castanheira disse...

quero mais posts

entao, andas a dormir ou ké??

preciso das tuas reflexoes :)

beijnhos

Anônimo disse...

andas ocupada com os exames???
entao??
como é??